Em janeiro de 2003, ao despedir dos meus pais na Rodoviária de Piracicaba, eu fui sozinho ao Aeroporto Internacional de Guarulhos. Embarcava rumo ao Japão com a cara e a coragem, repleto de incertezas. A agência de Massao Imoto embarcava mais dois marinheiros de primeira viagem comigo, o sul-mato-grossense Rubens e o paulista Rafael Wajima.
Depois de 26 horas de vôo, o desembarque no Aeroporto Internacional de Narita e muita confusão para encontrar o portão de embarque doméstico do vôo para Nagoya.
Um hora de depois, desembarcávamos sonolentos no antigo Aeroporto de Nagoya e o pessoal da Yasuzu já nos aguardava. Tive o primeiro contato com o Nei que era o responsável pelo alojamento. Dormi no caminho depois de comer o meu primeiro “ôbento” (espécie de marmita japonesa). Duas horas de viagem entre Nagoya e Hamamatsu.
A primeira impressão do alojamento era luxo, mas era só a primeira impressão. Fiquei num quarto individual com cama, armário pequeno, escrivaninha, aparelho de TV e ar-condicionado. O Rafael era o meu vizinho de frente. Os outros vizinhos eram neo-zelandeses e a comunicação era o meu inglês básico-intermediário.
Os primeiros dias passei o maior sufoco, pois não tinha dinheiro japonês, apenas moeda norte-americana. Tive que assinar um vale de 10,000 ienes. Não sabia o valor do dinheiro, então, eu comia uma vez por dia à tarde e dormia a maior parte do tempo. O inverno rigoroso e as roupas de inverno que levava do Brasil não aqueciam.
Dia 12 de Janeiro de 2003, assinei o meu primeiro contrato de trabalho na Yasuzu. Salário de 1,300 ienes a hora, regime de dois turnos e alternados, linha de montagem de carros populares da Fábrica Um e tudo parecia muito bom e fácil.
Aí, veio o primeiro dia, oito horas de trabalho, 55 minutos de almoço e três intervalos de cinco minutos. Observo e aprendo a trabalhar com outro brasileiro, o Mendes. O problema? Eu tenho 1,60m de altura e o Mendes tem 1,80m. Colocar pares de balanças (espécie de pares de amortecedores que seguram a porta) na porta-traseira com quatro parafusos cada e a fiação elétrica na porta traseira com o auxílio de um cabo de aço. Tempo: 1 minuto e 20 segundos.
Parecia impossível! Mas com o tempo se acostuma. O problema era a altura e o chefe japonês não queria me mudar de lugar. Passei vários meses ali, com alterações na ordem das peças introduzidas em cada carro. Eu passei a colocar as balanças e o chuveiro na porta-traseira. E o Mendes colocava o cabo que abria o tanque e a fiação-elétrica.
Neste período de alojamento Yasuzu Academy e de trabalho na Suzuki, o movimento de entrada e saída de moradores e trabalhadores sempre foi intenso, eu conheci muitas pessoas, pessoas que até hoje eu mantenho contato pelo Orkut, destaques para Carlos Yoneda, Wellington Ishimaru, Ismaeal Arakaki, Fabio Nosse, Guilherme Shinmi, Dennis Kyota, Adriano Nakamura, Hugo Reis, Yamanaka e muitos outros.
Em tempos em tempos, a Suzuki realiza reestruturações na produção. Quando cheguei, a primeira seção da linha de montagem (i-pan) tinha mais de vinte e cinco funcionários e o número era reduzido em cada alteração.
Depois de alguns meses, com a promoção do Luciano Lourenço para auxiliar de líder (help), eu assumi o seu antigo posto. Colocava a caixa de comando dos freios ABS e a fiação elétrica dianteira. Serviço bem mais corrido, em que a diferença de altura não atrapalhava. O meu serviço anterior ficou com o Denis.
Nova reestruturação, o líder da linha (hanshô) Yamashita me colocou no primeiro setor da linha, onde colocava as maçanetas na porta do lado direito, a borracha do vidro dianteiro, o sensor do air-bag, os sensores das portas e o apoio do banco traseiro.
Depois de 20 meses, eu cansei daquela correria toda, e saí da Suzuki. Com a indicação de um ex-funcionário da Suzuki, Claudio Massahiro, eu mudei de emprego, cidade e província.
Nenhum comentário:
Postar um comentário